O preconceito é o principal componente da exclusão de pessoas com deficiência do mercado de trabalho. Rondam no imaginário corporativo noções limitadoras sobre as capacidades profissionais destas pessoas, que são vistas como sujeitos pouco produtivos e qualificados.
Desmistificar tais pensamentos é um trabalho árduo, mas necessário para que possamos construir uma sociedade inclusiva, em que todos os seus componentes tenham oportunidades iguais de vida e desenvolvimento.
Hoje vamos desmistificar mais um preconceito vigente no mercado de trabalho: o da falta de qualificação das pessoas com deficiência. Confira.
Primeiramente, é preciso salientar que boa parte das empresas queixosas da falta de qualificação de PCDs não disponibiliza vagas executivas e de chefia para os mesmos, limitando-se às operacionais.
Lembremos também que apesar de já possuir duas décadas de vigência, a Lei de Cotas conquistou alguma efetividade recentemente. Nestes termos, até pouco tempo atrás, pessoas com deficiência eram sumariamente descartadas do mercado de trabalho e o cenário só se modificou – e pouco – com a obrigatoriedade legal. Ainda são muitas as empresas que descumprem a legislação e preferem pagar multas exorbitantes a investir em profissionais com deficiência e em acessibilidade.
O preconceito que impera em suas culturas as impede de ver que o mercado também é responsável pela educação da população, que criar uma demanda qualificada de PCDs é um estímulo para que mais destes profissionais invistam em sua especialização.
Todos os dias, na TV ou nas redes sociais, vemos grandes marcas prestando um serviço à diversidade social: campanhas estreladas por pessoas negras, por mulheres empoderadas. Mas as PCDs tornam-se, na falta de representatividade, indivíduos segregados também pela economia nacional, uma vez que seu poder de compra é proporcional à atividade excludente deste mercado.
Então, cabe às empresas brasileiras a responsabilidade pelo número de pessoas com deficiência altamente qualificadas. Afinal, não existe demanda sem oferta.
Para ajudar estas organizações a rever seus preconceitos e a repensar seu comprometimento social, realizamos uma pesquisa com a base de dados do PCD Online, ferramenta que conta com mais de 95 mil inscritos.
Nela pudemos observar que 48 mil currículos são de pessoas com ensino superior completo. Destes, 928 possuem MBA e 5.159, pós-graduação. Entre os inscritos, 388 completaram o mestrado e 91 são doutorados.
No entanto, das 4.700 vagas ativas, apenas 1.600 se destinam aos candidatos com ensino superior.
É fácil concluir que, mesmo com o déficit criado pela ausência de ofertas de trabalho para pessoas com deficiência antes da Lei de Cotas, existem muitos candidatos qualificados e em busca de uma oportunidade de trabalho. E que o preconceito segue sendo a principal barreira. Cabe às empresas decidir de que lado da história elas desejam estar: do lado dos que oprimem e excluem ou dos que trabalham a inclusão e investem na diversidade. Esta escolha tem muito a dizer sobre o posicionamento da marca e seu futuro no mercado consumidor.
Para além das mistificações acerca da força de trabalho de pessoas com deficiência, é preciso encarar a realidade social e os preconceitos corporativos de forma assertiva. Ainda que houvessem poucos profissionais com deficiência qualificados, é dever destas empresas criar demanda para a capacitação deste público. Resumir-se ao cumprimento legal disponibilizando apenas vagas operacionais é tolher a capacidade produtiva destas pessoas e o desenvolvimento que a organização poderia alcançar com elas.